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Embora tivesse a intenção de ajudar o seu amigo, o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu em processo no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe e de enquadrar o governo brasileiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ter dado um tiro no pé, com o tarifaço imposto aos produtos daqui. Pesquisa do Atlas Intel divulgada nesta quinta-feira, 31, mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprovado por 50,2% dos brasileiros e reprovado por 49,7%.
Para o cientista político André Luiz Coelho, professor da Escola de Ciência Política da Unirio, as medidas de Trump ajudaram Lula a ser um forte candidato à reeleição, mesmo sem querer.
“A avaliação do governo melhorou, eu acho que existe uma tendência impossível de subida nos próximos dias e meses, na verdade, a não ser que ocorra alguma outra grande novidade, eu acho que a tendência é de subida sim, ou pela estabilidade. Se o Lula tiver 50% de aprovação nesse momento, ele é um fortíssimo candidato à reeleição”, afirmou.
A aprovação Lula na pesquisa não era maior do que a reprovação desde outubro do ano passado. A oscilação foi de 0,5 ponto percentual para cima, dentro da margem de erro (1% para mais ou para menos), desde o último levantamento, divulgado em 13 de julho.
No mesmo período, o percentual daqueles que dizem reprovar o governo variou 0,6 ponto percentual para baixo, passando de 50,3% para 49,7%. Aqueles que não souberam responder somaram 0,2%.
A pesquisa foi realizada em parceria com a Latam Pulse e Bloomberg. Os dados foram coletados de 25 a 28 de julho. Foram entrevistadas 7.344 pessoas em todo o país. O intervalo de confiança é de 95%.
“Olhando a fotografia desse momento, eu diria que o prognóstico para o Lula é muito melhor do que foi nos últimos meses. Ele passou por um momento muito difícil, recentemente, com a chegada do Hugo Mota à presidência da Câmara dos Deputados. Teve algumas dificuldades ali na sua relação com o Congresso de modo geral”, observou André. “Mas o próprio Hugo Mota, nesse momento, está mais silencioso. Na verdade, as duas presidências da Câmara do Senado não se colocaram abertamente contra o Lula”, acrescentou.
O cientista político vê Jair Bolsonaro se apequenando na conjuntura política. “O Bolsonaro, de modo geral, tá perdendo espaço nesse momento. Não está claro, na verdade, quem vai ser o candidato da direita no próximo ano. Se a direita vai estar unida ou rachada. Uma vez que tem vários possíveis candidatos agora já se colocando, como o Eduardo Bolsonaro, a Michelle Bolsonaro, o Tarcísio, o Zema e o Caiado”, citou.
A AtlasIntel também questionou os entrevistados sobre a avaliação do governo petista. Dos entrevistados, 48,2% disseram avaliar o governo do presidente Lula como ruim/péssimo, enquanto 46,6% disseram ser ótimo/bom. Os que consideram regular somam 5,1%.
Avaliando esses dados, André disse que o governo vai lançar uma série de ações no segundo semestre deste ano e em 2026, medidas voltadas para a classe média e os mais pobres.
“Se essas ações surtirem efeito, tendem ainda mais a conseguir ampliar a popularidade do Lula.
E se a tarifa conseguir baratear, por exemplo, a carne e o café aqui do Brasil, com certeza isso tende ainda a aumentar a popularidade do Lula. Na verdade, o Lula conseguiu colocar de maneira muito exitosa até esse momento que o Bolsonaro e família estão agindo contra o Brasil, enfim, que o Brasil é dos brasileiros, trazendo de volta a bandeira verde-amarela mais ao lado do PT. Então, são sinais bem interessantes de uma capitalização política, não só do tarifaço, mas de uma agressão à soberania nacional, ao Estado de Direito brasileiro, à democracia e à independência dos Poderes”, disse.
Para o cientista político, toda a questão amplia o patriotismo. “Se as pessoas conseguirem entender isso, o governo conseguir comunicar bem isso, me parece que pode ser bem-sucedido. O Lula também tem ampliado agora suas viagens nas quartas, até quintas e sextas-feiras pelo Brasil. Isso gera uma aposta na candidatura dele para o ano que vem, uma proximidade maior em relação ao eleitorado”, afirmou.