Foragido da Justiça há um ano e sete meses e acusado de participação em um crime que comoveu o estado do Rio de Janeiro, Marcos Patrick da Silva de Aquino, de 33 anos, foi capturado por policiais militares do 12º BPM (Niterói) no início da noite de ontem (24).

Conhecido pelos apelidos “Tiquinho” e “Putão”, ele foi localizado por uma equipe da 4ª Companhia na Rua Nossa Senhora das Graças, no Complexo do Viradouro, Zona Sul de Niterói, onde é chefe do tráfico.

A prisão ocorreu um ano e quatro meses após o assassinato do motorista de aplicativo Filipe Rodrigues, de 24 anos, de sua companheira Rayssa Santos, de 23, e do bebê Miguel Filipe, de apenas sete meses. A família foi executada a tiros na madrugada de 17 de março, no bairro Cubango.

Marcos Patrick foi apontado pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) como um dos envolvidos diretamente na chacina, ocorrida no bairro Cubango. Segundo a Polícia Civil, Fabiano da Conceição da Silva teria executado os disparos.

A captura de Tiquinho representa um avanço importante nas investigações sobre o triplo homicídio, que causou grande repercussão por envolver a morte brutal de um bebê. Ele tinha dois mandados de prisão em aberto, ambos por homicídio, expedidos pela 3ª Vara Criminal de Niterói.

A prisão ocorreu após trabalho de monitoramento da PM e informações passadas pelo Disque Denúncia. No momento da captura, ao avistar os policiais que patrulhavam o local, diversos homens tentaram fugir, mas Tiquinho foi capturado. Ele foi encaminhado para a 79ª DP (Jurujuba), onde permaneceu detido.

Triplo homicídio e acerto de contas no tráfico

De acordo com as investigações da DHNSG, o assassinato da família foi motivado por uma traição dentro da hierarquia do tráfico. Filipe, a vítima, teria se passado por policial militar para extorquir traficantes do Morro do Castro, onde os autores do crime atuavam. Segundo os policiais, ele se apresentava como "Demolidor" e cobrava R$ 50 mil para identificar e entregar um suposto informante.

A farsa foi descoberta e, como punição, os criminosos decidiram executar Filipe, sua companheira e o filho do casal. Segundo a Polícia Civil, Marcos Patrick e Fabiano da Conceição foram os responsáveis por cumprir a ordem dada por Lucas Lopes da Silva, o “Naíba”, chefe do tráfico no Castro à época. Naíba morreu em confronto com a PM no dia 11 de abril, durante operação na comunidade.
 

Outros envolvidos também foram identificados e presos. Em 3 de abril, policiais civis prenderam Wesley Pires da Silva Sodré por participação na trama. Para os investigadores, a motivação do crime demonstra o grau de crueldade e a rigidez das punições internas impostas pelas lideranças do tráfico.

Trajetória criminal: tráfico, roubo e homicídios

O histórico criminal de Marcos Patrick, segundo a Polícia Civil, é extenso e violento. Considerado um dos chefes do tráfico da Favela Grota do Surucucu, em São Francisco, Zona Sul de Niterói, ele é ligado à facção Comando Vermelho e, segundo estimativas da inteligência policial, comandava ao menos 50 homens, movimentando cerca de R$ 100 mil por mês com a venda de drogas.

Além dos dois homicídios recentes que motivaram os mandados de prisão, ele tem passagens por tráfico de drogas, roubo majorado, associação criminosa, corrupção de menores e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. "Tiquinho" já havia sido condenado a 14 anos de regime fechado pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Niterói pelo crime de tráfico de drogas.

Ele também estava evadido do sistema penitenciário desde 2023, quando foi preso durante uma ação da PM no Complexo do Viradouro. Em 2017, havia obtido liberdade provisória para visitar a família e não retornou ao presídio.

Ainda segundo os registros da Polícia Civil, Marcos Patrick teria perdido uma das mãos ao tentar lançar uma granada contra policiais do 12º BPM durante uma ação no próprio Complexo do Viradouro, local onde foi recapturado. Apesar disso, permaneceu atuando como uma das principais lideranças do tráfico na região.

O criminoso também é um dos envolvidos no ataque contra a sede da 77ª DP (Icaraí). O crime aconteceu na madrugada de 31 de agosto de 2019, quando integrantes de um bando passaram numa moto e efetuaram diversos disparos contra a fachada da delegacia.
 

Ligação com feminicídio e execução de comparsa

As autoridades também apuram o envolvimento de Tiquinho em outro episódio violento registrado recentemente. Segundo as investigações da DHNSG, ele teria ordenado a execução de Claudio Henrique Mendes dos Santos, o “CH da Viradouro”, dois dias após este assassinar a ex-namorada Thatyane Brites, de 24 anos, durante um baile funk na comunidade.

Thatyane vendia doces e cigarros no local quando foi retirada à força e morta por CH. O feminicídio teria causado indignação entre membros da facção, levando o chefe local, Jerônimo Resende Teixeira, o “Jê Gatinho”, que está preso, a ordenar a morte do autor. A ordem teria sido cumprida por Tiquinho, que executou CH com tiros na cabeça e mandou que o corpo fosse queimado dentro de um veículo.

Coronel diz que "Putão" tocou o terror em Niterói

Comandante do 4º Comando de Policiamento de Área (CPA), o coronel Sylvio Ricardo Ciuffo Guerra comentou a prisão de Marcos Patrick da Silva de Aquino, o “Putão”, e relembrou o histórico de confrontos do traficante com a Polícia Militar em Niterói e São Gonçalo.

“Ele tocou o terror em Niterói. Eu o conheço desde 2019, quando assumi o 12º BPM. Foi responsável por várias ações em Niterói. Sempre teve um nome forte no Complexo do Viradouro. Era o 01 de lá”, afirmou o oficial.

Segundo o coronel, Putão chegou a protagonizar confrontos diretos com equipes da corporação e, após operações bem-sucedidas da PM, chegou a se esconder em comunidades de São Gonçalo.

“Várias vezes foi frente em trocas de tiros com a PM. Ficou um bom tempo dentro do Salgueiro escondido quando tomamos a Viradouro de vez”, acrescentou.

O oficial também explicou que o criminoso já estava mutilado à época da chacina que vitimou Filipe, Rayssa e o bebê Miguel, em março de 2024. “Já estava sem os dois braços nesse crime, se eu não me engano. Um dos braços ele perdeu em uma troca de tiro”, disse.

Ainda conforme registros da Polícia Civil, Marcos Patrick teria perdido a outra mão ao tentar lançar uma granada contra policiais do 12º BPM durante uma ação no próprio Complexo do Viradouro. Mesmo assim, continuou atuando como uma das principais lideranças da facção na região.