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Depois de falar sobre filosofia e arte, hoje, é a vez da religião. Em 323 AC, Alexandre morreu. Aristóteles via em Alexandre o que Goethe iria ver em Napoleão, uma espécie de unidade num mundo caótico e intoleravelmente multiforme e bárbaro. Estavam errados, e Alexandre morreu. Uns dizem que tomou veneno, outros que bebeu até morrer.
Acusado de perverter a ordem, mais ou menos, como acontecera a Sócrates, muito sabiamente Aristóteles fugiu dizendo que não iria dar a Atenas a chance de pecar uma segunda vez contra a filosofia. Mas ficou doente e morreu, alguns dizem que também bebendo cicuta, em 322 AC.
No mesmo ano e com a mesma idade de 62 anos, Demóstenes, o maior inimigo de Alexandre também tomou veneno. Num espaço de doze meses, a Grécia havia perdido seu maior governante, seu maior orador e seu maior filósofo. Agora, era Roma que se erguia como império, mais como pompa do poder do que luz do pensamento.
Mas a inquietação do pensar continuava latejante, porque, afinal, tudo no mundo é levado por um impulso íntimo a buscar algo maior do que é.
Será esse o porquê da religião? Aristóteles pensava nisso. Platão já havia pensado. Existe um Deus, embora não o deus simplório concebido pelo perdoável antropomorfismo das mentes adolescentes. O Motor Imóvel, a atividade pura que nunca age, o absolutamente perfeito que não pode desejar coisa alguma, portanto, nada faz, é, ele próprio, a essência de todas as coisas, a forma de todas as formas, cuja única tarefa é a contemplação de si mesmo. Esse Deus vive isolado numa torre de marfim, protegido da contaminação humana, afastado da severa realidade de Javé ou da solícita paternidade do Deus Cristão. O Deus concebido por Aristóteles não faz nada, reina, mas não governa.
E assim houve o Deus impessoal de Spinoza, o Deus simetricamente belo de Kant, o Deus da vontade coercitiva de Schopenhauer, o Deus animista dos povos primitivos e das crianças, o Deus ex machina dos americanos. (volto ao tema)
Dom José Francisco Rezende é arcebispo da Arquidiocese de Niterói.
Foi ordenado sacerdote no dia 10 de novembro de 1979. Especializou-se em teologia espiritual pelo Pontifício Instituto Teresianum, de Roma (1987-1989). Em 2011, o Papa Bento XVI o nomeou arcebispo da Arquidiocese de Niterói. Dom José recebeu o pálio das mãos do próprio Papa.