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O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou por estelionato Tatiana Corrêa Telles Pugsley, sócia da agência de viagens Eureka Viagens e Turismo, de Cabo Frio, na Região dos Lagos, acusada de vender pacotes turísticos que não eram entregues.
De acordo com a denúncia da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial de Niterói, duas vítimas transferiram R$ 21 mil para a compra de um pacote que incluía passagens aéreas e hospedagem.
Elas chegaram a receber documentos que supostamente confirmavam as reservas, mas, no dia da viagem, já no aeroporto, descobriram que não havia bilhetes nem hospedagem: as passagens e reservas eram falsas.
Segundo o MPRJ, a promotoria não ofereceu acordo de não persecução penal. O motivo alegado é que há diversos inquéritos em andamento contra a denunciada pela prática do mesmo crime, somados à ausência de ressarcimento às vítimas. A pena prevista pode chegar a cinco anos de prisão.
A investigação sobre os casos é conduzida pela promotora Renata Cavalcanti. Mais de 50 pessoas de cidades como São Gonçalo, Niterói, Itaboraí, Cabo Frio e Senador Canedo (GO) fizeram denúncias.
Há relatos de famílias impedidas de embarcar em aeroportos, turistas barrados em parques temáticos de Orlando e casos em Cancún, onde clientes descobriram no check-in que não havia reservas em seus nomes.
Pai de jovem atleta enganado
Um jovem atleta de jiu-jitsu quase perdeu a chance de disputar um torneio internacional nos Estados Unidos após descobrir que as passagens compradas não existiam. Ao verificar o código de reserva com a companhia aérea, a família constatou o problema.
O pai denunciou o caso nas redes sociais, relatando frustração, prejuízo financeiro e destacando que todos os pagamentos haviam sido feitos antecipadamente.
"A gente estava com tudo comprado, tudo pago para o Davi lutar o Punk Kids, na Flórida. Com as passagens que a gente comprou por uma agência de Cabo Frio, a Eureka Viagens. É uma fraude. Essa pessoa, de maio pra cá, a gente fechou essas passagens, e de maio pra cá essa mesma agência vem dando golpe em várias pessoas. A bomba está estourando agora", contou Nielson Bittencourt.
Ele contou ainda que um amigo de Búzios ia viajar com a família também foi vítima da agência de viagens. "Ontem eles foram para o aeroporto. Chegou lá e essas passagens não existiam. Esses bilhetes eram só a pré-reserva e não tinha sido efetuado o pagamento", complementou.
Nielson disse ainda que não consegue mais falar com Tatiana Pugsley. "A gente esteve atrás dela. A gente não encontra ela. Ela colocou um advogado para falar comigo", reclamou.
Interdição do Procon e suspensão no Cadastur
Após as denúncias dos clientes, o Procon de Cabo Frio interditou a agência e proibiu o funcionamento online da empresa. O Cadastur — cadastro do Ministério do Turismo — suspendeu o registro. As medidas miram conter novas vendas enquanto avançam as apurações e as tentativas de reparação dos prejuízos já registrados.
A operação denunciada está vinculada à microempresa cuja razão social é Tatiana Correa Telles Pugsley. O nome fantasia, no entanto, é Eureka Viagens e Turismo.
A atividade principal é agências de viagens, com secundárias em serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas, serviços de reservas e outros serviços de turismo. O endereço comercial fica na Avenida Julia Kubitschek, Centro de Cabo Frio.
A agência oferece pacotes para Punta Cana, na República Dominicana, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, além de cidades brasileiras como Gramado. Há também opções para Europa e Estados Unidos.
O que diz a empresa
Em nota, a Eureka Viagens e Turismo afirma estar ciente das recentes questões e diz que trabalha diligentemente para resolvê-las. Declara ter 12 anos de atuação no mercado e argumenta que complicações na prestação de serviços são inerentes ao setor, afirmando que sempre as tratou com seriedade e responsabilidade.
Segundo a empresa, após a veiculação de vídeos e publicações em jornais, clientes com viagens agendadas passaram a cancelar pacotes e contestar pagamentos de forma unilateral, o que teria gerado uma onda de cancelamentos e impactos significativos na operação, inclusive afetando a viagem de outros clientes. A nota menciona ainda ameaças escritas e perseguições.
A companhia diz ter tomado conhecimento, “por meio de jornal”, de que estaria legalmente impedida de exercer atividades por decisão do Procon, e que seus sócios estariam impedidos de trabalhar em outra empresa. Afirma que procedimentos estariam ocorrendo sem que fosse ouvida, e que alguns clientes teriam tido acesso privilegiado a informações. A empresa ressalta que a situação “é delicada para todos” e que segue buscando soluções.
A nota pede desculpas aos clientes, agradece “mensagens de carinho e apoio” e diz que está à disposição para negociar individualmente cada caso, “com base no respeito, na legalidade e nos contratos firmados”.