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Um projeto desenvolvido no Laboratório de Estudos em Pragas e Parasitas da Universidade Federal Fluminense (LEPP/UFF) produz biocidas a partir do reaproveitamento de resíduos de biomassas, com o objetivo de oferecer uma alternativa sustentável no combate de pragas agropecuárias. O estudo criou pastilhas bioinseticidas para controle de insetos em grãos armazenados e uma solução em pó acaricida para combater carrapatos bovinos, além de produtos que atuam contra a mastite e pragas da produção avícola. Como resultado do impacto positivo no meio ambiente, o projeto se tornou o primeiro da universidade a receber uma patente verde.
“Fazemos o aproveitamento da biomassa, que seria jogada no lixo, o que gera uma economia circular. O resíduo vira matéria prima para um produto que possui maior valor agregado, se tornando um coproduto durante a fase de fabricação. Então, ao realizar pesquisas nesse sentido, empresas passam a aplicar esse método para alterar o destino final da biomassa. Atualmente, estamos trabalhando em parceria com algumas empresas, para o tratamento dos resíduos gerados”, disse a coordenadora do projeto e professora do Departamento de Biologia Celular e Molecular da UFF, Evelize Folly das Chagas.
Os produtos do projeto são desenvolvidos através do processo de pirólise, que consiste na termoconversão dos produtos vegetais em ausência de oxigênio.
“Esse processo gera quatro produtos: um carvão, uma fase gasosa e duas fases que são líquidas. Então, pegamos os resíduos e realizamos a termoconversão para gerar novos produtos com aplicações na agropecuária, na fase de pré-colheita, produção e pós-colheita”.
A pesquisa criou uma substância antibacteriana eficaz para combate à mastite bovina através da pirólise da fruta da árvore Amendoeira-da-praia, presente tanto no campus da UFF, quanto em praias cariocas. A mastite é uma doença inflamatória associada a bactérias que prejudica a produção de leite, ao reduzir a qualidade do alimento, o que gera perdas econômicas estimadas em aproximadamente dois bilhões de dólares por ano. A fruta, processada pela pirólise, mostrou-se uma opção 100% eficaz em testes laboratoriais para o controle da doença.
Ainda com foco na criação bovina, o projeto desenvolveu um pó acaricida para combate a carrapatos bovinos, que de acordo com a pesquisa, provocam uma perda de US$ 3 bilhões por ano. A alta capacidade de reprodução também chama a atenção, dado que as fêmeas, após se encherem de sangue, depositam entre três e cinco mil ovos no solo. Na fase mais resistente, as larvas do parasita passam cerca de três meses sem se alimentar, antes de se instalarem num hospedeiro.
Assim, segundo a pesquisadora, “em torno de 90% da infestação do carrapato fica no ambiente, não no hospedeiro, e o produto atua nessa fase”. Folly ainda explicou que a infestação normalmente está radicada no ambiente de criação de animais, o que reforça a necessidade de se desenvolver alternativas.
Além disso, o projeto está desenvolvendo pastilhas bioinseticidas para controle de insetos em grãos armazenados, como o besourinho dos cereais (Rhyzopertha dominica) e o gorgulho (Sitophilus zeamais), por exemplo. Tais espécies são as maiores pragas em armazenamento de grãos no Brasil e representam perdas anuais em grãos armazenados que podem chegar a 10%, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Os líquidos de pirólise também podem auxiliar a avicultura, no combate do inseto cascudinho, que pode provocar lesões na pele e no trato digestivo das aves, colapso hepático, prejuízo nutritivo e danos estruturais às granjas e galpões. O produto desenvolvido é aplicado por contato nas camas do frango e combate o inseto.
A entrevista completa pode ser vista neste link.