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“Se eles reverem os protocolos, eu vou sentir que a morte da minha filha não foi em vão”, disse Manoel Marins, pai da niteroiense Juliana Marins, em entrevista exclusiva ao RJ2, nesta terça-feira (1º). Juliana morreu após cair durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, no último dia 21.
O corpo dela só foi encontrado quatro dias depois, e a demora no resgate expôs uma série de falhas na estrutura do parque onde ocorreu o acidente. Segundo Manoel, autoridades indonésias reconheceram os problemas e se comprometeram a rever os protocolos de segurança do parque nacional.
“Eles abriram a reunião dizendo assim: ‘Nós vamos rever os protocolos do parque. Era isso que a gente ia pedir’. E eu disse: ‘Se vocês fizerem isso, vou sentir que a morte da minha filha não foi em vão, porque vai evitar a morte de muitas outras pessoas. E, se ela não morrer em vão, isso vai trazer um pouco mais de alento para o nosso coração’”, desabafou.
Juliana tinha 26 anos e fazia a trilha acompanhada de um guia local. Segundo o pai, a jovem acabou se separando do grupo por um motivo simples, que pode ter sido determinante:
“Depois de andar um pedaço, a Juliana percebeu que tinha esquecido aqueles ‘stickers’, que são de apoio. E aí ela voltou, sozinha, para pegar. Ele (o guia) não voltou com ela. E aí ela volta para pegar esses apoios e volta para a trilha mais cansada do que todo mundo. A partir dali, segue”, contou Manoel.
As incertezas sobre o que aconteceu entre o momento da queda e o resgate se somam à dor da família.
“Não foi só a viagem mais difícil, mas os dias mais difíceis da minha vida. Desde sexta-feira, quando soubemos da queda dela no vulcão e vimos a imagem dela se mexendo, imaginávamos que o serviço de resgate chegaria rápido. Mas não foi isso que aconteceu”, disse.
O corpo de Juliana chegou ao Brasil na noite desta terça-feira (1º) e seguiu para o Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), no Rio de Janeiro. A nova necropsia está marcada para a manhã desta quarta-feira (2) e será acompanhada por um perito da Polícia Federal e por um representante da família.
A realização de uma nova autópsia foi uma exigência da família, que acionou a Justiça brasileira e obteve autorização judicial. O objetivo é esclarecer dúvidas que surgiram após o laudo feito na Indonésia.
“Precisamos saber se a necropsia que fizeram lá foi bem feita. Me pareceu que o hospital não dispõe de tantos recursos assim”, afirmou Manoel.
O laudo indonésio apontou como causa da morte múltiplas fraturas e lesões internas provocadas por uma queda. O documento indica que Juliana teria sobrevivido por cerca de 20 minutos após o trauma, mas não esclarece o momento exato da morte.
As autoridades locais foram criticadas pela condução do caso, principalmente pela forma como os dados foram divulgados: antes à imprensa do que à família. Em meio ao luto, Manoel se apega à memória da filha como uma forma de conforto.
“Por onde ela passava, as pessoas gostavam dela, porque ela era uma menina muito doce. Aquele sorriso largo, de orelha a orelha, é a imagem que vamos ter dela. De um anjo que veio ao mundo para viver e ser exemplo para outras pessoas”, declarou emocionado.
Juliana era niteroiense, apaixonada por viagens e aventuras, e sonhava em conhecer os vulcões da Indonésia. O que era para ser um momento marcante de sua trajetória acabou se transformando em uma tragédia internacional que levanta questionamentos sobre a segurança em destinos turísticos de risco. Agora, com a nova necropsia, a família espera por respostas — e por justiça.