Assinante
O elefante-marinho que virou atração de São Francisco, em Niterói, decidiu ficar. Apelidado de Nikito, o animal permanece dentro do canal de São Francisco, onde tem sido visto descansando e nadando, e segue sob monitoramento da Prefeitura de Niterói e de especialistas. A orientação oficial é clara: admirar, mas manter distância.
Segundo o biólogo Rafael Carvalho, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da UERJ, equipes da Guarda Ambiental estão de prontidão na região.
"O pessoal da Guarda Ambiental já está postos lá. Já dei algumas orientações. [...] tenho um técnico que trabalha comigo que está indo para lá para ajudar. A princípio o responsável lá da Guarda [...] disse que ele acabou adentrando o canal, foi até a altura do Mc Donald's, chegou a dar uma nadada na direção já pra boca do canal, mas ainda está lá por dentro", disse.
Para facilitar a saída do animal, a barreira de contenção de resíduos na boca do canal foi retirada na terça-feira (29). A estratégia permitiria que Nikito alcançasse o mar aberto, mas o elefante-marinho retornou para o interior do canal. As equipes trabalham agora em afugentamento controlado em direção à saída e estudam recolocar contenções para evitar nova volta do animal.
"Esses animais, eles entram onde dá pra entrar. Tem relatos de animais entrando 30 km para dentro de rios. Nesse caso, até pela questão de ser relativamente ruim para o animal adentrar esse canal, o pessoal vai tentar fazer o afugentamento dele novamente para a boca do canal, e vai tentar colocar alguma contenção ali", explicou.
Autoridades reforçam o protocolo: não se aproximar, não tentar tocar ou alimentar e evitar barulho. A área permanece isolada, e a Guarda Ambiental orienta que qualquer ocorrência seja comunicada pelo 153 (Cisp).
Da Patagônia ao Leste Fluminense
Nikito é um jovem elefante‑marinho‑do‑sul (Mirounga leonina), espécie que pode chegar a 6 metros e pesar mais de 3 toneladas. No inverno do Hemisfério Sul, juvenis se afastam das colônias na Patagônia em busca de alimento e descanso. Empurrados por correntes marinhas, alguns atingem o Sudeste brasileiro — aparições raras, mas previstas para a época, explicam pesquisadores da UERJ.
Roteiro de viagem
O primeiro registro de Nikito no litoral fluminense foi há cerca de cinco dias, na Praia da Sacristia, em Jaconé (Saquarema). De lá, o animal passou por Ponta Negra e Piratininga, onde, no sábado (26), descansou sobre as pedras e virou atração entre banhistas.
No domingo (27), foi visto nadando na Baía de Guanabara, nas proximidades do Rio Sailing Club, em São Francisco. Já na terça (29), reapareceu descansando no canal de São Francisco, onde chegou a deitar sobre a rede de contenção de lixo.
O ex‑prefeito Axel Grael acionou a Guarda Ambiental quando o avistou em São Francisco; pesquisadores do Grupo de Mamíferos Aquáticos da UERJ, como José Lailson, acompanham o deslocamento do animal “pingando de praia em praia”. Desde Jaconé, a rotina inclui avaliações veterinárias e isolamento preventivo das áreas de descanso.
Saúde e comportamento
De acordo com o biólogo Rafael Carvalho, Nikito apresenta boa condição corporal e comportamentos típicos da espécie, como permanecer parado por longos períodos em faixas de areia ou costões, alternando com mergulhos e possíveis momentos de forrageio. Um pequeno ferimento observado no corpo já cicatriza e não compromete o bem‑estar do animal. A estimativa de peso varia entre 3 e 4 toneladas.
Quem está no campo
A Guarda Ambiental de Niterói e a empresa de monitoramento Econservation mantêm isolamento de cerca de 40 metros para proteger o animal e o público. O coordenador da Guarda, Jociley Neves, destaca que a medida é essencial para reduzir o estresse e permitir que o mamífero retorne ao mar no tempo adequado.
O veterinário Diogo Cristo (Econservation) explica que o indivíduo é juvenil e vem sendo monitorado desde Jaconé. Este é o primeiro elefante‑marinho monitorado na região.
Por que ele veio parar aqui?
Fora da época reprodutiva e da muda de pelagem — fases em que permanecem em terra —, os elefantes‑marinhos passam semanas no mar e podem percorrer longas distâncias . A Península Valdés (Argentina) é apontada por especialistas como a origem mais provável dos visitantes que aparecem no litoral do Sudeste. Ao encontrar locais tranquilos e com pouca pressão humana , juvenis descansam antes de retomar a rota.
Serviço — O que fazer ao avistar o Nikito
* Mantenha distância (o isolamento é de 40 m ).
* Não toque, não alimente e evite barulho.
* Acione a Guarda Ambiental pelo 153 (Cisp) .
* Siga as orientações das equipes no local e respeite as áreas isoladas.
Enquanto Nikito segue fazendo do canal de São Francisco seu “ponto de descanso”, a torcida é para que ele recupere as energias e encontre o caminho de volta ao mar aberto com segurança.