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Erosão e avanço do mar ameaçam praias da Região Oceânica de Niterói
Pontos turísticos da cidade se tornaram verdadeiros laboratórios da crise climática
Erosão e avanço do mar ameaçam praias da Região Oceânica de Niterói
Foto do autor Pedro Menezes Pedro Menezes
Por: Pedro Menezes Data da Publicação: 21 de julho de 2025FacebookTwitterInstagram
Praia de Piratininga na atualidade. Foto: Prefeitura

Com faixas de areia amplas e paisagens deslumbrantes voltadas para o Atlântico, as praias da Região Oceânica de Niterói há décadas são um dos maiores patrimônios naturais da cidade. Mas talvez esse cenário esteja com os dias contados. De acordo com estudos e especialistas, a combinação de elevação do nível do mar e intensificação de ressacas transformou áreas como Piratininga em pontos críticos de vulnerabilidade costeira.

Em entrevista exclusiva ao jornal A Tribuna, o professor Rodrigo Amado Garcia, do Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica por que Piratininga se tornou um ponto sensível diante das transformações climáticas. "Grande parte do terreno no entorno das lagoas de Piratininga e Itaipu está situada pouco acima do nível da água. Com o aumento do nível médio do mar, essas áreas passam a estar mais sujeitas a inundações frequentes", afirma.

A análise de Garcia não é um alerta isolado. Em 2024, um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou que até o fim do século várias praias da orla carioca poderão perder até 100 metros de faixa de areia. Em Niterói, o cenário também é grave. Os pesquisadores preveem perda de áreas costeiras e até o desaparecimento de manguezais da APA de Guapimirim. A estimativa se baseia em dados do IPCC e modelagens climáticas regionais, com destaque para inundações prolongadas ao redor da Baía de Guanabara e suas adjacências.

Praia de Piratininga após ressacas ocorridas em 1996, acima, 2016 e 2020, abaixo. Foto: Acervo pessoal

Sinais de erosão já são vistos

Os dados e previsões começam a se fazer presentes na Praia de Piratininga. As extremidades da faixa de areia, tanto na entrada do bairro quanto na região da Prainha, sofrem processos de erosão há pelo menos uma década. Em 2016, o calçadão desabou em um dos trechos; em 2020, o problema se repetiu no lado oposto. "A areia das praias funciona como um mecanismo natural de proteção costeira", explica Rodrigo Garcia.

O professor defende a técnica de engordamento de praia (amplamente adotada em países como Holanda e EUA) como alternativa viável, apesar de cara. Trata-se da reposição artificial de areia, feita por dragas, com o objetivo de recuperar o estoque sedimentar natural das praias. Segundo ele, a Prefeitura de Niterói já possui um projeto pronto desde 2019 para a Praia de Piratininga. A TRIBUNA indagou a prefeitura sobre o projeto, que informou que em breve dará um retorno.

Praia de Piratininga na década de 1960. Foto: LABHOI - UFF

Engenheiro alerta: contenção por muros pode piorar o problema

Em seu estudo "Alternativas de engenharia adotadas para mitigação de erosão nas praias de Niterói", Garcia e seus colegas da UFF fazem uma crítica contundente à adoção de muros de contenção. Esses muros, como os construídos em Piratininga e Camboinhas, bloqueiam o fluxo natural de sedimentos e aumentam a reflexão das ondas durante tempestades. "Ao invés de proteger, esses muros aceleram a perda de areia e aumentam a vulnerabilidade da costa", destaca.

A Praia de Camboinhas, apesar de historicamente mais estável por ainda possuir dunas vegetadas, também passou por episódios de erosão nos últimos anos. Em 2022, após uma ressaca, a Prefeitura construiu muros de gabião (estruturas preenchidas com pedras) como medida emergencial. Segundo os autores do estudo, a decisão repete erros já cometidos em Piratininga.

O professor Rodrigo também alerta para o impacto do avanço do mar sobre a drenagem urbana. Regiões como Piratininga e Itaipu dependem do escoamento de águas pluviais para lagoas e canais que se conectam com o mar. Com o nível das lagoas mais elevado, o sistema de drenagem tende a colapsar com mais frequência. “Esse é um problema que se agrava com o aumento das chuvas intensas, fenômeno já observado nos últimos anos”, pontua.

O que pode ser feito?

Apesar da gravidade do cenário, ainda há caminhos para mitigar os impactos. Segundo Garcia, as chamadas soluções baseadas na natureza devem guiar as políticas públicas costeiras. O engordamento de praias, a restauração de dunas e a proteção de manguezais são exemplos disso.

Manguezais e restingas, embora limitados às regiões mais abrigadas, como a Baía de Guanabara, são apontados como aliados importantes na proteção contra alagamentos e erosão. Já nas praias mais expostas, como Piratininga, a reconstrução de dunas pode oferecer resistência maior às ondas.

O professor finaliza afirmando que a diminuição da largura da faixa de areia é algo lento e gradual, mas é esperado que regiões das praias que hoje estão emersas fiquem submersas. "Logo, ocorrerá uma diminuição da largura das faixas de areia. Intervenções de engordamento de praia seriam uma solução para compensar essa perda de largura de faixa de areia. Vale lembrar que engordamento de praia é um exemplo de solução baseada na natureza, pois usa para a proteção da costa o mesmo dispositivo que a natureza já usa: a areia. Entretanto, não é uma solução indicada para toda e qualquer praia. Cada caso é um caso", finalizou.
 

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